Por Maximiliano da Rosa
Fahrenheit 451 não é só um livro. Mais que um livro, é um manifesto à liberdade e à democracia. Escrito não muito tempo depois do fim da Segunda Grande Guerra e do começo da Guerra Fria, a obra de Ray Bradbury é um daqueles livros que não envelhecem. Se fizer uma pesquisa no Google ou nas livrarias virtuais qualquer um pode ver que o romance figura na lista dos mais vendidos ao lado de 1984, O Conto da Aia, Revolução dos Bichos e Admirável Mundo Movo e outros clássicos. Não é coincidência.
A distopia do autor de "As crônicas marcianas" segue atual e relevante em sua crítica ao totalitarismo 68 anos após a sua publicação original. As semelhanças entre o futuro assustador mostrado no livro e a realidade política brasileira ajudam a manter o Fahrenheit 451 em sua posição privilegiada. Se olhamos para rua e não vemos livros sendo queimados, a impressão que temos é de que esse dia parece cada vez mais próximo.
Fahrenheit 451 narra a história de Guy Montag, um bombeiro que não foi treinado para conter incêndios. No mundo imaginado por Bradbury as casas são à prova de fogo, e resta a esse profissionais outro trabalho: queimar livros. E, quando não basta, o fazer o mesmo com pessoas e bibliotecas inteiras. Sempre é bom lembrar que, por mais fantasiosa que pareça a ideia, isso já aconteceu no passado. A Bücherverbrennung (a grande queima de livros promovidos pela Alemanha nazista na Berlim de 1933) foi um dos primeiros atos do ditador nazista quando chegou ao poder.
A prosa leve de Ray Bradbury, que conta uma história profunda e angustiante, sem se perder em exageros linguísticos ou narrativos, ajuda a tornar a leitura fácil. Para quem tem o hábito da leitura, a obra pode ser lida numa "sentada". Isso não impede, porém, que o leitor acabe se apegando aos personagens como Clarice e Faber. (Mas o meu favorito é o sabujo mecânico, um cachorro robô criado para caçar e matar pessoas que pensam por si mesmas.)
Enfim, Fahrenheit 451 é um livro clássico e essencial. Todos deveriam ler. Não por obrigação ou moda ou qualquer outro motivo. Mas para tirar dele alguma lição para as nossas próprias vidas e nossa realidades.
NÃO VEJA O FILME
Agora, uma dica: não assista ao filme de 2018, da HBO. A adaptação estrelada por Michael B. Jordan exagerou na liberdade criativa. Pior que isso: na tentativa de criar um filme de ação futurista, o diretor Ramin Bahrani errou a mão. Errou feio. Errou rude. Uma das cenas mais icônicas do livro simplesmente não aparece no filme. Vários personagens importantes, também não. Se o livro é uma crítica ao sistema, o filme vendeu-se ao sistema, ao consumismo e à linguagem de massa. A impressão que temos é que o diretor pegou um resumo de Fahrenheit 451 sentou para escrever o filme.
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