1979, livro de Airton Uchoa Neto
1979 é o primeiro livro de poesia de Airton Uchoa Neto, autor do romance Crônica da província em chamas (2012). As poesias dialogam com uma Fortaleza antiga, nostálgica, mas ao mesmo tempo sombria e misteriosa. A partir do poemas de abertura, "O livro da amarela luz", o autor chegou a fazer um curta-metragem caseiro disponível no YouTube. O livro está em campanha de financiamento coletivo, que pode ser acessado no link: https://benfeitoria.com/projeto/1979
Confira 3 poemas presentes no livro
O vermelho da luz vermelha se acendeu sem eu
Precisar ter uma só lâmpada da cor, pois era nos quartos
Secretos da mente. Era sempre nos quartos secretos
Da mente, eu pensava, até que a mente invadiu tudo,
Como se a luz contida pudesse se derramar da lâmpada
Quebrada e inundar tudo. O mundo era vermelho
Sob a luz vermelha, a rua e a noite era vermelha
Sob a luz vermelha. A vid’ era vermelha
Sob a luz vermelha. Só eu que era um jarro inteiro e tímido,
Com medo, ainda, da queda e do estilhaço. A tesoura,
Ao mesmo tempo erótica e o avesso de erótica,
De repente pareceu um objeto misterioso
De funcionamento misterioso.
...
Quem me dera conhecer no corpo vivo
Os pontos vegetais em que já não corre seiva, a parte da planta que não dói.
Se não posso ser planta, quem me dera,
Ser um curioso animal só de unhas e cabelo.
...
Os caules internos, numerosos,
Que me tornam sozinho uma floresta inteira.
Os caules ocultos, intrincados,
Mapeados no caderno de anatomia
Onde homens e mulheres serenos e sem pele
Celebram a tranquilidade científica da última nudez.
Sobre o autor
Airton Uchoa Neto é Mestre em Literatura Comparada pela UFC. Autor do romance Crônica da província em chamas (2012) e codiretor, em parceria com André Moura Lopes, do curta-metragem O isolamento social do homônimo Quintino Cunha e seu lento metabolismo (2021). Participante esporádico de revistas, antologias e coletâneas literárias. Colaborador fixo da revista eletrônica Segunda Opinião. Revisor constante de traduções para a Biblioteca Pannonica (Consulado Geral Honorário da Hungria no Paraná), dedicada à divulgação da cultural e literatura húngaras em língua portuguesa. Atualmente é professor substituto de língua portuguesa na rede de ensino municipal da cidade de Fortaleza, onde nasceu e vive.
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