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Resistência, romance de Guilherme Rocha Formicki entra em pré-venda

Resistência, romance de Guilherme Rocha Formicki


"Resistência", romance de Guilherme Rocha Formicki entra em pré-venda. Publicado pela editora Patuá, o livro terá lançamento  no sábado, 25/11, às 18h na Casa Gueto em Paraty e em São Paulo em data a ser marcada. Confira a sinopse da obra:

Os dias de angústia vividos em 2005 ensinaram a Miguel que a principal condição para o martírio não é morrer, e sim fazer algo memorável pela sua gente. Na noite em que uma explosão sacode o Congresso Nacional e mergulha o governo do presidente Lula no caos, Miguel escuta disparos no quarto ao lado. Seu pai, sua mãe e sua madrasta estão gravemente feridos. Aos dezessete anos, o mundo de Miguel vira de cabeça para baixo e o jovem mergulha no mundo da favela, da religião e da resistência diária ao autoritarismo. 

Interessados em comprar o livro na pré-venda, o link é https://www.editorapatua.com.br/resistencia-romance-de-guilherme-rocha-formicki/p. Para quem quiser e puder adquirir na pré-venda: mais vendas de antemão permitem que mais livros sejam disponibilizados no futuro. 

Leia a seguir um trecho do livro:

"GOLPE

1.

Nunca foi minha intenção impregnar estas memórias com um tom sombrio. Inclusive, até hoje consigo vislumbrar a imensidão de amor que permeou nossa luta contra a barbárie — luta que não cessou e que, suponho, nunca cessará. Na nossa união, criamos laços que nos fortaleceram. O ódio ao nosso redor felizmente não foi capaz de penetrar no nosso arredoma de companheirismo e mutualismo.

O medo, contudo, estava lá. Entre nós, sobre nós e dentro de nós. Eu não pude ignorar este cenário ao escrever as linhas que seguem. Eu estaria forjando a História se abrisse mão de pôr no papel as angústias daqueles tempos.

O ano era 2005 e a televisão começava a nos inundar com notícias a respeito do Mensalão e do que seria a maior crise política no governo do Partido dos Trabalhadores. Um novo papa havia sido escolhido no primeiro conclave desde 1978. O Furacão Katrina atingiria em cheio o sul dos Estados Unidos dentro de algumas semanas e deixaria um massivo rastro de destruição em Nova Orleans.

Alheio a boa parte das notícias, eu me debruçava sobre os cadernos. Acreditando que o maior divisor de águas da minha vida seria o vestibular, eu estudava por horas a fio todo santo dia.

Sempre preferi levantar cedo para estudar ao invés de ficar acordado noite adentro resolvendo equações de segundo grau ou tentando identificar a ambiguidade nos versos das poesias. Antes de o sol nascer, eu já me levantava da cama e mergulhava nos livros e nas apostilas. Mas, naquele ano, eu, estudante do terceiro ano do Ensino Médio e frequentador do colégio no período da manhã, sentava-me à escrivaninha do meu quarto logo depois do almoço e encerrava o expediente à meia-noite ou à uma da manhã. Às vezes, eu me deitava ainda mais tarde.

Para mim, estava claro que eu tentaria a faculdade de jornalismo. Certa vez, em uma visita à clínica psiquiátrica da minha mãe, ela comparou a minha habilidade com as palavras escritas à de colunistas de jornais como a Folha ou o Estadão. Ela profetizava: eu seguiria os passos de medalhões do jornalismo ou de importantes romancistas, cujos nomes eu não conhecia, mas que, a julgar pela empolgação na fala dela, pareciam ser grandes modelos no mundo da escrita.

“Você vai ser como o Robert Caro. Ele fez a biografia do Lyndon Jonhson e ganhou até um Pulitzer. Ou, então, você vai ser como o Stephen King, que tem vários best-sellers. E sabia que ele começou a carreira escrevendo para um jornal da faculdade?”

Seus olhos brilhavam quando eu chegava em casa trazendo boas notas estampadas nas redações do colégio. Certa vez, a professora Márcia, de português da sétima série, pediu que nossa turma produzisse um jornal para o quarto bimestre. A mim coube a pauta do 11 de setembro. Foi, aliás, quando aprendi o que era uma pauta. Relatei o atentado: o horário em que o primeiro avião atingiu a Torre Norte; o segundo choque, este na Torre Sul menos de vinte minutos depois; o desabamento dos dois prédios e o número de mortos e feridos. Falei sobre a Al-Qaeda, sobre a reação do governo do presidente Bush e fiz minha análise numa coluna de opinião que se seguiu: aquele seria um marco do enfraquecimento do poderio americano no mundo.

Na última semana de aula, a professora, exibindo um sorriso de satisfação, bateu na porta da nossa sala no meio de uma aula de biologia, interrompendo triunfantemente a aula de revisão do colega, e disse:

“Meus queridos, adorei os jornais feitos por vocês. Inclusive, a coordenação decidiu premiar os melhores trabalhos. Vamos fazer uma exposição aqui no corredor da sétima e oitava séries no dia da reunião de pais. Venham para descobrir quem ganhou!”

Fato é que o meu grupo ganhou o prêmio. Nós recebemos até um certificado, que minha mãe emoldurou e pendurou ao lado da cama dela na clínica psiquiátrica, onde ela já passava seus últimos dias. “Sei que um dia você vai escrever para o New York Times ou para o Washington Post. Você tem talento, filho,” ela me disse repetidas vezes naquele ano.

Quando uma vez aventei a possibilidade de me enveredar pela Engenharia Civil, ela foi taxativa: “A engenharia vai te engessar, filho. Seus textos têm o dom de tocar o coração das pessoas. Você tem que estudar algo que te dê uma formação livre e humanista. Que lindo vai ser ver você lançando um romance best-seller numa livraria lotada de fãs!”

Meu pai tinha outros planos para mim. Ele me imaginava um futuro advogado, daqueles que comandam um escritório renomado, que moram em uma cobertura no Itaim Bibi e que dirigem BMWs. Como ele.

Eu abominava a ideia de seguir seus passos. No fundo, eu sabia que seu trabalho sempre fora mais importante do que eu e minha mãe. E não queria repetir suas escolhas nem seus gestos egoístas.

“Miguel, eu já tenho todo um aparato profissional à minha disposição”, ele, que usava a palavra “aparato” com uma frequência irritante, me falava sempre que podia. “Você vai herdar tudo isso e vai poder usar a seu favor”.

Herdar o quê? Uma vida medíocre baseada em aparências toscas?

“Eu já quis ser escritora”, minha mãe outra vez me disse. “Adorava ler Agatha Christie para me inspirar, inclusive. Mas a vida foi acontecendo, filho... Eu conheci o seu pai, casei, tive você e agora... agora estou aqui, nesse lugar.”

Meu pai desconhecia a minha opção pelo jornalismo. Seguro de que eu escolheria o Direito, ele já planejava minha carreira e encontrava em mim qualidades que me ajudariam a ir longe. “Você tem a serenidade e o senso de justiça de um juiz, Miguel. Isso vai te abrir muitas portas.”

Sobre o autor

Guilherme Formicki é arquiteto e urbanista formado na Universidade de São Paulo. Viveu em Nova Iorque, onde cursou um mestrado em Planejamento Urbano pela Universidade de Columbia. Lá, ganhou o prêmio Charles Abrams pela dissertação com o maior comprometimento com justiça social.

​Foi colunista do blog literário Escritor Brasileiro, além de finalista do Prêmio Off Flip de Literatura 2021. Teve participações nas Antologias “Date Ruim”, da Psiu Editora, “Pelo Direito de Amar”, da Ao Vento Editorial e “Conto Brasil”, da Editora Trevo. Foi um dos 16 ganhadores do Concurso Literário Contistas Independentes. É autor de “Pranto”, conto que ganhou o primeiro lugar no Concurso Diamantes Raros, a segunda colocação no Concurso Fique em Casa e o terceiro lugar no Concurso Literário Novos Talentos –– três certames realizados no Wattpad. Em 2021, publicou o romance Escândalo no Planalto Central (disponível na Amazon)

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