A obra "ABECÊ da Liberdade: A história de Luiz Gama", como seu título indica, tinha a intenção de contar a trajetória do ex-escravo e advogado considerado o maior abolicionista do Brasil de maneira leve e descontraída. Até aí tudo bem. Destinado a público infantil e cheio de ilustrações, a obra literária, porém, acabou alvo de polêmicas e acabou sendo retirado do mercado.
O livro foi publicado em 2015 pelo selo Alfaguara da Editora Objetiva, e permaneceu no mercado deste então sem chamar muita atenção. Nesse período, a obra escrita por José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta, com ilustrações de Edu Oliveira, vendeu em torno de 2 mil unidades. Em 2020 o livro foi reimpresso sem alterações, e mais tarde foi incorporado ao catálogo da editora "Companhia das Letras" quando esta adquiriu a editora Objetiva.
A polêmica em trono da publicação, porém, só começou há cerca de uma semana, após a publicação nas redes sociais de J. S. uma cientista social que comprou o livro infantil para dar de presente ao filho de uma amiga. Ela ficou indignada com a forma como as crianças, entre eles o pequeno Luiz Gama, foram retratadas. As cenas das crianças negras brincando de escravos de Jó e ciranda cirandinha nos porões de um navio negreiro causaram revolta, e ela as classificou como "violência simbólica".
Outras pessoas também se mostraram indignados com a publicação. Foi o caso do Lourival Aguiar, doutorando em Antropologia pela USP (Universidade de São Paulo). Pai de um menino de 7 anos, ele classificou o livro como "constrangedor" e criticou a romantização da escravidão, período que deixou marcas na sociedade e na forma como o negro é visto.
Além da falta de sensibilidade ao tratar o tema, historiadores apontaram inconsistências e erros históricos em o "ABECÊ da Liberdade: A história de Luiz Gama". Entre os erros está o fato de que era impossível para as crianças ter espaço para brincadeiras. Os escravos trazidos da África eram mantidos em situação precária e muitos morriam ao longo da viagem. Além disso, ao contrário do que sugere o livro, mesmo que quisessem as crianças jamais conseguiriam brincar com as correntes de ferro, pois essas eram muito pesadas.
Outra cena problemática apontada por especialistas é uma que o navio e acompanhado por golfinhos, sugerindo que ali estavam pessoas numa viagem feliz. Para eles, trata-se de um exemplo de racismo estrutural e da relativização dos abusos sofridos pela população negra ao longo da história do brasil.
Após toda essa polêmica, a editora Companhia das Letras solicitou a retirada do livro do mercado. Todas as unidades expostas em regime de consignação foram recolhidas. A editora também se desculpou pelo constrangimento provocado pela obra informou que ele passa por um processo de releitura interna e que o mesmo passará para uma revisão.
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