A descoberta da Biblioteca (Viana Moog) em São Leopoldo/RS

Texto que escrevi para o projeto "Histórias com a Viana Moog", a biblioteca pública de São Leopoldo. Nele, conto como foi a primeira vez que entrei no prédio localizado na praça 20 e fiquei fascinado pelos livros e sobre como eles mudaram a minha vida. Confiram:

"São os anos 80, e eu sou só um guri suando aos montes dentro do coletivo. Lá fora, o calor. O ardor de São Léo num dia qualquer de verão. É mundo que queima, aos poucos, no furor da frieza expelida de cada belo e mesquinho ego urbano. A verdade verdadeira do subúrbio, com seus borbulhares e sibilos e estampidos e odores e violência, gruda na pele. A rotina corrói a mente, derrete os sentidos, polui. A realidade de dias sempre iguais, monótonos, transitam diante dos meus olhos baços.

Eu tento sobreviver.

A cidade, impregnada de desatinos, desalento, desilusão, talvez não queira deixar. Nenhum herói se apresenta. Nenhuma intervenção à vista. A perdição suja parece certa e iminente. Até aquele dia, pelo menos. O dia da descoberta. Há um mundo maior e mais rico por aí, percebo. Quase por acidente. Os livros são a tábua. A salvação quase imediata da rudeza exterior. São a fuga mais legítima para um espírito desorientado, aprendiz.

Isso se descortina logo cedo. No momento em que coloco os pés na biblioteca pela primeira vez. Eu, guri esquálido, pálido, inocente, bexiga quase estourando, preciso urinar depois da viagem de mais de meia hora no ônibus apinhado que me conduz, aos sacolejos, da Feitoria para o centro. Desembarco na parada da Praça 20, corro até a biblioteca, subo os poucos lances de escada, adentro. Me alivio no banheiro limpo e bem iluminado. Lavo as mãos, saio. Mato a minha sede no bebedouro. Finalmente, ando por um estreito corredor. Estou pronto para voltar para a rua, mergulhar na realidade vazia e sem perspectiva.

De repente, vejo que há dois caminhos, duas direções. Esquerda e direita. Uma leva em direção à saída. A outra, para dentro, onde há o frescor do ar-condicionado e dos livros. Os livros não me interessam. Ainda não. Tenho só treze ou catorze anos. Mas preciso escolher. Ir ou ficar. Decido rápido, viro à direita e caminho em direção ao interior do prédio. Menino tímido, passos incertos. Eu ainda não tenho noção, mas logo vou descobrir, que aquele é um lugar mágico. Aonde as palavras impressas ganham vida, viram histórias. E histórias tem o poder de mudar as pessoas. E as pessoas, o poder de mudar o mundo. Nem que seja o pequeno mundo ao seu redor."

 

Maximiliano da Rosa nasceu em Novo Hamburgo em 1973. Viveu grande parte da vida em São Leopoldo. Atualmente reside no litoral norte, em Imbé. Escritor e poeta, participou de diversas antologias literárias. Recentemente foi 3ª colocado no 18º Concurso Literário Mario Quintana na categoria Poesia Regional. Publicou os livros de contos "O Land Rover Negro e a Caixa de Drops" (2020) e "Ofertas Imperdíveis" (2022) e o de poesias "A hora de massacrar idílios" (2022).

Por Maximiliano da Rosa

Meus novos livros "Ofertas Imperdíveis" e "a hora e massacrar idílios" já estão à venda.

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Sou escritor, poeta, blogueiro e desenvolvedor de aplicativos móveis.