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Poeta Tony Roberson de Mello Rodrigues volta à cena da literatura brasileira após 20 anos de silêncio literário

 Nascido em Paranaguá (PR) e morando em São José desde os 14 anos, o poeta Tony Roberson de Mello Rodrigues nutre desde muito cedo um amor gigante pela leitura e a escrita: alfabetizado pelos pais em casa aos três anos, entre nove e doze anos começou a escrever os primeiros poemas, motivado por uma paixão platônica por uma colega de classe.

— Ela tinha a caligrafia diferente, toda trabalhada, então, apaixonado por ela, comecei a copiar a caligrafia dela e, como ela escrevia poesias, eu passei a me interessar por poemas, daquelas trovinhas de amor do tipo “O beijo dado no rosto/ rola, rola, cai no chão./ O beijo dado na boca/ vai parar no coração” – diz o poeta, hoje com 43 anos, 4 livros publicados de forma independente, que ainda guarda o caderno de poesias da pré-adolescência, como podemos ver nesta reprodução:

Fonte: Acervo pessoal do poeta.

Tony pede que não deem importância aos erros de Português no poema. A caligrafia copiada da colega de classe é possível observar nos títulos dos poemas. No poema “Naqueles tempos” o poeta de hoje chama a atenção para o fato de que o poeta daquela época (então com idade entre 9 e 12 anos) já era saudosista de um tempo ainda mais deslocado no tempo, ali por volta de seus 7 anos, quando a família morava com todos os membros juntos. 

— O poema fala em ciranda, cinema aos domingos, o quintal etc., mas relendo o poema hoje, lembro que o que senti de saudosismo ao escrevê-lo era em relação a uma vida anterior à separação de meus pais e o afastamento dos dois irmãos menores, em 1990, quando perdemos nossa casa em um incêndio criminoso e, dois meses depois, meus pais se separaram, minha mãe foi do Paraná para Santa Catarina com meus dois irmãos menores e eu e minha irmã Prescila, os dois maiores, ficamos com nosso pai. Só depois de quatro ou cinco anos de lutas nos procurando em Paranaguá é que nossa mãe nos encontrou e, em questão de dias, voltamos a morar com ela e meus irmãos menores em São José (SC), onde eu e minha mãe residimos ainda hoje, como vizinhos de Prescila, seu esposo e seu filho. 

Pedimos ao poeta que contasse um pouco de sua trajetória literária, do início até seu mais recente livro:

Morando em São José e cursando a 8ª série lá no ano de 1995, todos os professores da escola municipal Américo Vespúcio Prates sabiam que eu amava escrever, então de vez em quando pediam para eu escrever meus poemas de forma bem bonita em cartolinas e expor no corredor da escola, ou então eu escrevia roteiros improvisados de locução imitando rádio, ficava escondido atrás de duas carteiras e apresentava nas salas para divertir meus colegas. Nessa escola também lembro de que, em cada recreio, eu devorava um livro da série vaga-lume, inclusive o primeiro deles que li também não esqueço, foi um chamado “Sozinha no mundo”, e também lembro que adorava os do Marcos Rey. Vivi inclusive um episódio tragicômico com esse autor. Certa vez, pesquisei por ele e achei um site, e-mail para contato e uma foto dele bem sorridente, então rapidamente mandei um e-mail dizendo que era superfã dele e que esperava me encontrar com ele em breve. Poucos dias depois, quando descobri que ele havia morrido há algum tempo já, tive que rir do que havia dito no e-mail.

Após a 8ª série, meu padrasto na época queria que eu fizesse uma espécie de vestibular de segundo grau para entrar na então Escola Técnica Federal de Santa Catarina (ETFSC, hoje IFSC), polo de São José, para o curso de Técnico em Ar-Condicionado. Eu não estava muito certo se era isso que eu queria fazer, e quando soube que a maioria dos meus amigos prestaria o exame para o polo de Florianópolis, para depois tentar o curso Técnico em Eletrônica, fui pelo mesmo caminho, porque para mim mais importava manter as amizades recém-conquistadas depois que cheguei em Santa Catarina do que passar no exame para estudar um curso que para mim não dizia nada.

Foi a melhor decisão da minha vida, porque, desde que entrei em 1996 na ETFSC de Florianópolis até 1999, quando concluí o curso Técnico em Eletrônica, eu escrevi para o jornal da ETFSC (comandado na época pelo professor Alcides Vieira), escrevi peça de teatro para o grupo teatral Boca de Siri encenar (inclusive o crítico de arte e professor Osmar Pisani, na época, fez parte da encenação dessa pequena peça que escrevi e que era uma homenagem ao poeta Lindolf Bell), participei de (e ganhei) concursos literários da ETFSC, publiquei poemas meus numa antologia da ETFSC, na agenda da ETFSC (quando já era CEFETSC), e lancei em 1998, ano em que Saramago ganhou o Nobel em Literatura, meu primeiro livro, chamado Lágrimas Lapidadas, cuja capa reproduzo:

Fonte: Acervo pessoal do poeta.

Desse primeiro livro foram feitos apenas 190 exemplares, e tanto o incentivo para publicação como a correção do livro ocorreram graças à intervenção das professoras de Português da ETFSC, especialmente a professora Noêmia Brandt Brall, a quem devo grande parte do meu querer ser escritor. 

Neste primeiro livro publiquei várias poesias, aforismos e algumas crônicas. Reproduzo aqui  a frase da capa do livro: “A mais intensa realidade é aquela que sustenta a imaginação”, e um poema:

E mais um dia se passou

Um avião perturba o silêncio do céu.

Um menestrel declama sua nova toada.

Mamãe se irrita com a janela quebrada.

Um poeta se inspira sobre o papel...


Um casal se prepara para a lua de mel.

A vizinha se zanga com a molecada.

A garoa que cai vai virando enxurrada.

Um soldado conversa com seu coronel.


Um sorriso, uma praça...

Um canário voou.

Mais um chá foi servido,

Um portão consertado,

Um contrato assinado.

Um aluno passou.


É a vida lá fora de forma diversa.

É o dia que acaba ao nascer de outro dia.

É o dia que apressa!

É o dia, sem pressa.


Em 1999, junto com uma colega da ETFSC, lançamos o livro Jovens Poetas da ETFSC na Bienal do Cone Sul, no Shopping Beiramar, em Florianópolis. Não me lembro quantos exemplares foram feitos, mas o livreto teve boa aceitação. Ainda nesse ano, entrei para o Grupo de Poetas Livres, de Florianópolis, que tinham o projeto Viajando com Poesia, pelo qual poemas dos poetas do Grupo eram afixados nas vidraças dos ônibus de Florianópolis, trago dessa época um de meus poemas publicados no projeto:

Fonte: Acervo pessoal do poeta.

Em 2003, após premiação em vários concursos literários brasileiros, eu já estava cursando Letras (Alemão) na UFSC à noite e trabalhando como documentador técnico na área de Telecomunicações. Redigir manuais técnicos explicando como os softwares da empresa funcionavam foi inclusive uma profissão que desenvolvi por seis anos com muita paixão e dedicação, todo ano era premiado pelas ideias que eu sugeria para produtos e processos da empresa. Ocorre, entretanto, que nessa época eu estava passando por problemas familiares, financeiros e, para piorar, meu pai faleceu de forma repentina e eu senti demais sua perda. Nesse momento, colegas do serviço e da universidade me ajudaram a levantar recursos financeiros e a publicar mil exemplares de um terceiro livro, que intitulei de “verso que te quero povo”, cuja capa – que eu mesmo criei com uma foto minha de infância – reproduzo aqui:

Fonte: Acervo pessoal do poeta.

Como poema desse livro reproduzo o da contracapa:

Fonte: Acervo pessoal do poeta.

A partir daí, não sei se pela perda de meu pai, foi como se a torneira da inspiração tivesse secado, porque se antes eu escrevia compulsivamente no meio das aulas, durante o almoço, antes de dormir, ao levantar, agora eu forçava a concentração mas não me surgia na ideia uma única linha para borrar a folha em branco. O dom não sumiu na verdade de todo, mas eu diria que uns 99%. O 1% que insistia em se fazer vivo e atuante eu publicava de forma tímida no site Recanto das Letras, onde publico até hoje muitas de minhas composições, mas fora isso nada mais. E assim fiquei em silêncio, por 20 anos. 

Verdade seja dita: em 2000 iniciei, juntamente ao ofício de redator de manuais técnicos, também o de revisor de textos, que foi outra paixão em minha vida, a qual exerço até hoje – Se você precisa, o Tony revisa! – então creio que a profissão de revisor foi o que preencheu minha vida nesses 20 anos de silêncio literário.

Em 2022, quase perdi minha mãe algumas vezes, o que me abalou muito emocionalmente e fisicamente. Como eu já estava tratando uma bipolaridade (herdada geneticamente do pai) e um Transtorno de Ansiedade Generalizada desde 2007, a possibilidade de perder minha mãe me jogou em depressão e, em novembro, não sei se porque devido a essa carga emocional toda, comecei a ficar muitas noites sem dormir, ou a acordar de madrugada, e a inspiração poética começou a jorrar novamente, foi então que comecei a escrever novamente – e novamente de forma compulsiva – muitos poemas, a maioria sonetos, sobre minha luta contra a depressão, a bipolaridade, a ansiedade, a dor, e em março de 2023 eu já tinha escrito tanta coisa que decidi: pronto, agora tenho material suficiente para um novo livro!

Foi assim que nasceu o livro “Poeta em crise”, lançado também de forma independente – a exemplo de todos os meus livros até agora – primeiramente em e-book, pela Amazon, e agora em formato físico na quantidade inicial de 200 exemplares. Aproveito aqui para reproduzir sua capa física – a capa da versão em e-book é distinta:

Livro "Poeta em Crise"
Fonte: Acervo pessoal do poeta.

Reproduzo aqui, deste livro, o trecho inicial do poema Abertura à Primavera:

Fonte: Acervo pessoal do poeta.

Para fazer os 200 exemplares físicos do livro, eu cadastrei uma vaquinha e, mesmo tendo atingido apenas 10% da meta, dei um jeito de custear eu mesmo a impressão, agora a vaquinha continua online, no endereço: https://www.vakinha.com.br/4323787, para eu conseguir o retorno de pelo menos uma parte do investimento feito.

O livro contém 105 páginas com 55 belíssimos poemas, em sua maioria mostrando as dores, lutas e superações pelas quais passei. Cada exemplar físico está sendo comercializado por apenas R$35,00 (já incluso o frete dos Correios) e pode ser adquirido fazendo um pix pela chave tonyrevisor@gmail.com e mandando a solicitação por este e-mail ou pelo WhatsApp 48 99629-3305. A versão em e-book está disponível para venda na Amazon a um preço promocional de R$20,00, no link: https://www.amazon.com.br/dp/B0C9P4HF9W

Tony diz que, após publicar “Poeta em crise”, em março de 2023, não parou de escrever, apenas optou por divulgar seus poemas apenas no Recanto das Letras, no seu Facebook e no seu Instagram @tonyrevisor. Dessa maneira, recentemente decidiu participar de um concurso literário que aceitava textos não inéditos, desde que só tivessem sido publicados em redes sociais, ou seja, não tivessem sido impressos ainda, aí começou a compilar tudo que havia escrito de março de 2023 para cá e, para seu espanto, a compilação rendeu 1 livro de poemas curtos, 2 livros de poemas longos, 1 livro de prosa e 1 livro bem recheado só de sonetos.

Com a corda toda, o autor diz que “Poeta em crise” foi uma virada de chave em sua abordagem literária sobre a vida, pois, passada a pior fase da depressão, o autor enxerga agora novas possibilidades de temas a tratar: humor, erotismo, meio ambiente, política, infância, as possibilidades são muitas, e ele finaliza afirmando que possui alguns sonhos como escritor para realizar em breve: um livro de crônicas, um livro de contos, um romance e, coroando a carreira, livros infantojuvenis de poesia, pois para ele – e usando palavras de um colega das Letras – escrever para crianças e jovens é o “suprassumo” literário.


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