"Cidades de Papel" é o primeiro livro de John Green que eu leio. Confesso que fiquei curioso com todo o alvoroço dos fãs em torno do autor americano durante a última Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Acredito que seja culpa de "A culpa é das estrelas", o livro que está sendo levado agora para as telas do cinema. Verdade seja dita: não posso falar com propriedade dessa obra, já que não a li. Por isso vou me ater a comentar apenas ao livro que li. E, para ser honesto, não fiquei muito impressionado.
Antes que os fãs de Green caiam de pau na minha cabeça, devo dizer que há uma explicação para eu não ter gostado tanto assim de um livro muito bem recomendado por outros blogs: é que já não sou jovem. Tenho lá os meus 40 anos e já não me impressiono com o joguinho de palavras de escritor que parece preocupado mais em fazer gracinhas do que realmente contar uma história de verdade. Não que haja algum problema com o livro. Não, é um livro bem escrito, juro.
Mas não é um livro para mim. Não para uma pessoa que cresceu lendo Moacyr Scliar e Érico Veríssimo, só para citar dois dos meus autores prediletos. Além disso, não gostei nem um pouco do modo como Walt Whitman é tratado no livro. Um dos maiores poetas americanos e do mundo é usado apenas para fazer parte de um jogo de gato e rato de dois adolescentes? Não, ele merecia mais. E se a juventude americana tem essa visão vazia e superficial de um escritor tão importante, é realmente um tanto decepcionante.
Falando especificamente do enredo, devo dizer que o livro realmente prende o leitor. Pelo menos no início. John Green tem uma prosa ágil, o que certamente ajuda a angariar cada vez mais leitores para a sua obra. Porém, e apesar do tema interessante, "Cidades de Papel" se perde numa história vazia. Cheia de rodeios e tramas que acabam por não levar a lugar algum.
Em certos momentos parece que o livro já deveria ter acabado, e que o autor parece estar apenas preenchendo espaço, sem nada de realmente importante para dizer. Não que o personagem Q não tenha nada de importante para compartilhar. Ele tem. Mas sua obsessão em encontrar Margot, a vizinha e colega de escola que desapareceu quase sem deixar rastros, o leva a uma sucessão de cenas sem grande apelo dramático.
Não vou dizer que quase dormi lendo o livro. Não cheguei até esse ponto. Mas em certo momento senti vontade de pular algumas páginas para ver o que acontecia. E realmente o fiz. Para o meu próprio desgosto, pois acabei pulando uma parte interessante e acabei tendo de voltar para ler e entender o que havia acontecido.
No final das contas não perdi muita coisa. E quando cheguei ao final percebi que podia ter pulado vários capítulos sem que isso tenha interferido no entendimento do enredo. E isso me fez concluir que, afinal das contas, "Cidades de Papel" é um livro sem muita história. Eu esperava mais. Esperava surpresa.
A julgar pelas cenas iniciais e pelo ímpeto rebelde de Margot, eu esperava por revelações parecidas com as encontradas na novela "Perdão, Leonard Peacock", também da Intrínseca. Ao contrário do livro de John Green, Mathew Quick explica, e disseca seu personagem principal. Ao final do livro conseguimos entender suas razões. Já em "Cidades de Papel" eu não entendo como uma adolescente simplesmente resolve deixar seus amigos e a família e sumir no mundo. As razões até estão lá, mas eu não consegui engolir.
Talvez eu esteja errado, claro. Afinal trata-se de um livro para o público juvenil. Talvez se eu fosse mais jovem minha opinião poderia ser diferente. Mas não é, e aí está ela. Concordem ou não.
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