[Resenha] Perdão, Leonard Peacock

Há muitos modos de se contar uma história. Há quem comece pelo fim. Outros começam pelo começo e vão direto ao ponto. E esse é o caso do livro mais recente de Mathew Quick, "Perdão, Leonard Peacock". Logo nas primeiras linhas já sabemos que o protagonista do romance planeja fazer: matar o seu ex-melhor amigo com um tiro da pistola nazista P-38 que pertencera a seu avô e depois se matar. Tudo isso bem no dia do próprio aniversário de 18 anos.
[Resenha] Perdão, Leonard Peacock Há muitos modos de se contar uma história. Há quem comece pelo fim. Outros começam pelo começo e vão direto ao ponto. E esse é o caso do livro mais recente de Mathew Quick, "Perdão, Leonard Peacock", da editora Intrínseca. Logo nas primeiras linhas já sabemos que o protagonista do romance planeja fazer: matar o seu ex-melhor amigo com um tiro da pistola nazista P-38 que pertencera a seu avô e depois se matar. Tudo isso bem no dia do próprio aniversário de 18 anos.
Simples assim.

Mas nada nesse livro é tão simples assim. O que parece ser a atitude de um adolescente desajustado talvez apenas tentando chamar a atenção logo se revela algo muito mais complexo.

À medida que mergulhamos nas páginas do livro, percebemos que Leonard não é um adolescente mimado, ou algo assim. Pior, ele parece atormentado por demônios interiores muito poderosos.

São esses demônios que o empurram em direção a um destino trágico, que parece inevitável. Sim, ele tem um plano trágico para a sua vida, um plano tenebroso alimentado pela angústia e pela culpa.

A primeira vez que ouvi falar do livro foi numa matéria num site de notícias durante o lançamento na Bienal do Livro do Rio, em 2013. Lembro de que o autor da matéria descreveu o romance como um livro sobre bullying. O que não está errado.

"Perdão..." pode ser, sim, descrito como sendo um livro sobre bullying. No entanto o autor de "O Lado Bom da Vida" trilha caminhos que vão muito além. Trata-se de uma obra sobre os dramas enfrentados pelos adolescentes há tempos: desajuste, pais ausentes, incompreensão, rebeldia, preconceitos, violência.

Não é um livro capaz de agradar a qualquer pessoa. Só quem já foi adolescente e sofreu algum tipo de discriminação. Ou seja, quase todo mundo. Poucos são aqueles que não se identificarão com algumas situações presentes no livros.

Poucos mesmo.

Só os insensíveis ficarão indiferentes ao drama vivido pelo adolescente.

Só os duros de coração não deixarão escapar pelo menos uma lágrima ao mergulhar na história.

Não há como não ser tocado pelo romance.

Enquanto escrevo este texto, ainda não li o final do livro. Não sei o que acontecerá com o pobre Leonard ao final de sua jornada. Mas uma coisa eu sei: que o romance "Perdão, Leonard Peacock" é um livro que está impregnado pelo talento de Quick, e que cada palavra ali escrita parece um pequeno barco de papel deslizando as águas turbulentas da literatura.

E esses pequenos barcos, um após o outro, vão escorrendo rio abaixo rumo ao mar, vasto, imponente. Eles enfrentam ventos, tempestades, correntezas, rochas pontiagudas. Mas, no final, chegam intactos ao seus destino, e podem ser recolhidos um a um pelos ávidos leitores.

Só que estes, ao tirarem os pequenos barcos do mar, nunca mais serão os mesmos.

Estarão transformados.
Sou escritor, poeta, blogueiro e desenvolvedor de aplicativos móveis.