Por Everton Cidade
Matheus Freitas nasceu em 1990, é jornalista, escritor e roteirista. Desde cedo manifestou o interesse na leitura e, por esta razão, decidiu escrever. Motivos que o levou a escolher o jornalismo como graduação (e também porque não iria precisar lidar com química, matemática e biologia). Do jornalismo, surgiu o interesse em se aventurar por livros e roteiros.
Desde 2018 vem trabalhando em projetos pessoais e independentes. Em 2020 publicou seus primeiros livros, o romance humorístico Puta Merda: Virei Prefeito e Agora? e a aventura A Cidade Branca.
De lá para cá foram mais três publicações, destaque para o livro Totverso, obra de ficção científica, aventura e que mistura mitologia, filosofia e muito mais.
Também já publicou contos, quadrinhos e produz curtas e longas-metragens experimentais.
Em 2020, Matheus também foi um dos vencedores na categoria Roteiro de Curta-Metragem do concurso de roteiros organizado pela Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI).
Na real, Matheus gosta de escrever aquilo que gostaria de ler ou ver, por isso, às vezes, tem algumas ideias absurdas, outras interessantes e algumas, sob entendimento de outros, ruins (porque seu gosto nem sempre é compreendido pelos demais), mas, no fim das contas, só quer contar algumas histórias.
1.Tu escreve humor, ficção, sci-fi e HQs. Como funciona tua cabeça para separar os estilos na hora de escrever?
Para mim é um processo natural porque eu gosto de consumir de tudo um pouco, tanto na literatura, quanto nos quadrinhos, filmes e séries. E por mais que sejam momentos de relaxamento e entretenimento, acabam se tornando fontes de pesquisas. E acho que quanto mais diversidade, maior é tua amplitude criativa.
Para dar um exemplo, acho que os filmes acabam se tornando uma fonte de referência mais rápida e o repertório, principalmente devido aos streamings, pode ser muito diversificado.
Gosto de assistir filmes independentes, fora do circuito comercial, obras experimentais, filmes mais “bizarros” também, mas não deixo de lado blockubusters.
O que me atrai em um filme (e isso serve para série, quadrinhos e livros) é a ideia da história, não ligo para o tempo, orçamento ou ano do filme.
Por exemplo, gosto de ver as obras do cineasta húngaro Béla Tarr. São filmes longos, lentos, com planos extensos e sem cortes, mas gosto bastante. Recentemente também me deparei com a filmografia da diretora alemã Ulrike Ottinger e achei seus filmes muito bons. Destaque para Madame X (1978). Também comecei a assistir aos filmes do Quentin Dupieux, um cineasta francês que produz obras de “comédia do absurdo” e estou adorando.
Mas também adoro assistir a franquia do John Wick, Bad Boys, obras de ficção científica (tanto aquelas que te fazem refletir mais sobre determinado tema quanto óperas espaciais com ação), filmes de super heróis etc.
Não forço nada. Como eu disse, pra mim é um processo super natural consumir produtos diversos. E isso acaba se tornando fonte de referência para lidar com projetos dos mais variados gêneros.
A única coisa que eu costumo fazer é me “afastar” para não ser influenciado. Por exemplo, o meu livro Totverso, uma obra de ficção científica, desde o início da ideia até a pré-venda dele, foram 4 anos de trabalho.
Entre em 2019 e 2020 eu tinha um arquivo onde apenas anotava ideias para implementar a história. Já sabia como iria conduzir a narrativa, mas precisava de outros elementos para deixar o livro mais atraente.
Então, tudo que eu via, independente do gênero, eu conseguia pegar alguma referência. Além de pesquisas etc. Em 2021, quando parei para escrever, decidi parar de assistir tudo que poderia influenciar nas minhas decisões narrativas. Principalmente obras de ficção científica. Entre 2021 e 22 praticamente não consumi nada de ficção científica.
Neste mesmo período também estava desenvolvendo meu longa experimental chamado Baratas Não Sobrevivem a Uma Explosão Nuclear, uma obra inspirada no movimento surrealista francês. Então tudo que poderia influenciar na minha decisão, eu não assistia.
Depois que eu escrevi e produzi o filme, voltei a consumir tudo que eu gosto.
Mas, no geral, a minha fonte de inspiração é um processo natural e acaba sendo tranquilo entender o que cada projeto necessita de mim. Não quero dizer que é “fácil”, porque escrever não é fácil. Então não vejo outra palavra senão “natural”. É algo orgânico na qual não tenho tanta dificuldade em andar em diferentes linhas de projetos.
2. Como é escrever SCI- FI no Brasil ?
Escrever, de maneira geral, é difícil no Brasil. Principalmente quando se é um escritor independente. Ao nichar um público específico para um determinado gênero, se torna uma tarefa ainda mais difícil.
O que eu percebo são ondas de popularidade. E vejo alguns escritores circulando nessas ondas para conseguir público e depois tentando nichar seu conteúdo porque já tem esse público.
Eu particularmente não gosto de escrever algo só para entrar numa onda. Faço isso se a história que eu quero contar realmente me faz acreditar nela.
Totverso, por exemplo, meu livro de ficção científica, embarcou nessa onda de Multiverso. Mas, quem já leu sabe (e não é só porque eu escrevi) que o livro ele acaba indo por um caminho muito diferente de obras tradicionais sobre multiverso.
Porque eu não queria escrever mais do mesmo. E o resultado do livro foi muito satisfatório.
E Sci-fi no Brasil, de maneira geral, sempre teve certo preconceito. Porque parece que não é algo que brasileiro tem capacidade de fazer, é coisa de fora do País.
E no momento que tu junta sci-fi com livro e autor independente, se torna ainda mais difícil a situação.
Por outro lado, há uma satisfação pessoal muito grande em receber feedbacks positivos do livro. Mostra que os 4 anos de pesquisa e produção valeram a pena.
Consegui entregar um livro de ficção científica que flerta com vários conceitos, mas também aborda questões físicas, mecânica quântica, filosofia, mitologia, religião e mais.
3. Quais são teus escritores de coração?
Eu gosto de ver tudo como um processo construtivo. Antes de ler, filmes como Jumanji e Toy Story me encantaram e me fizeram gostar de cinema.
Quando aprendi a ler, a Turma da Mônica entrou na minha vida. E isso me fez conhecer quadrinhos e querer continuar lendo sem parar.
Na adolescência, conheci Harry Potter e, além de ler, isso me despertou o interesse em escrever. Mais tarde, Viagem ao Centro da Terra e Moby Dick tomaram conta do meu imaginário.
Já li muita coisa de muito autor bom, mas Mauricio de Sousa, J.K. Rowling (apesar dos pesares), Júlio Verne e Herman Melville fazem parte da minha construção pessoal e como escritor.
4. Tu organizou a Feira Do Livro Independente De São Leopoldo. Como foi fazê-lo?
Eu não organizei, nós organizamos! Sem teu apoio, o projeto não teria andado.
Lancei meus primeiros livros durante a pandemia. Foi só em 2023 que comecei a circular em eventos de cultura pop, principalmente para divulgar e vender Totverso.
Percebi que o público, muitas vezes, queria adquirir aquilo que eles conseguiam comprar em qualquer lugar. Obras grandes e comerciais. E não é uma crítica ao público, como eu disse, acho que quanto mais nos abastecermos de conteúdo, melhor.
Mas achava injusto e desproporcional que escritores independentes tivessem que estar “concorrendo” com obras muito maiores, editoras e livrarias etc.
Então resolvi desenvolver essa ideia de uma feira literária somente com escritores independente. O escritor e seu livro. Ter esse contato direto com o público.
A feira ocorreu em novembro de 2023, no Afronte, e foi ótima! Começando a trabalhar para uma nova edição.
Sobre o autor
Everton Cidade é músico e escritor.
Tem 5 livros publicados.
O mais recente é COHAB GOYA (Editora Folheando) e está em campanha de pré-venda de seu livro Poemas Neon pela Taup. Clique no link a seguir para conferir e apoiar: https://benfeitoria.com/projeto/poemasneondeevertoncidade
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